“Estamos à beira de um colapso e prestes a queimar rápido”, alerta pesquisadora sênior sobre mudança do clima

22 Sep 2021

BONN, Alemanha — Luciana Gatti, pesquisadora sênior de mudanças climáticas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e autora principal do estudo destaque da revista Nature do mês de julho de 2021 sobre as emissões líquidas positivas de carbono da Amazônia, abriu a conferência global sobre o Bioma Amazônia nesta terça-feira (21/09).
“Estamos à beira de um colapso e prestes a queimar rápido”, alertou Gatti. “Chegamos ao ponto de inflexão da Amazônia, mas isso ainda é reversível”.

Gatti afirmou que nos últimos 50 anos, a região Amazônica perdeu 17% de suas florestas. No último ano, a redução foi de 1.5%. Ela apelou por ações urgentes, e medidas amplas para controlar e cessar o desmatamento durante as estações secas, quando incêndios causam efeitos ainda mais devastadores. Também recomendou formas mais sustentáveis para o manejar a agricultura e restabelecer o ecossistema.

“A mudança na circulação do Atlântico está ligada à degradação da Amazônia que, por sua vez, está relacionada ao degelo do permafrost e do Ártico”, disse Robert Nasi, diretor geral do Centro de Pesquisa Florestal Internacional (CIFOR). “Isso é muito perigoso, porque você pode criar um efeito dominó que impacta a base da biosfera e os sistemas de sobrevivência da vida”.

“Estamos com problemas”, ele acrescentou. “Esses pontos de inflexão estão interrelacionados, eles não ocorrem independentemente”.

A seca na Amazônia está a caminho de comprometer seriamente a sobrevivência das espécies, ameaçar a subsistência de mais de 30 milhões de pessoas, acelerar a crise climática, alterar o ciclo da água (ciclo hidrológico) da terra, interromper os sistemas alimentares globais e causar trilhões de dólares em danos à economia global.

“Por que o COVID-19 apareceu? Porque nós poluimos o ar, contaminamos a água, torturamos a Mãe Natureza”, disse Nemonte Nenquimo, Líder Waorani da Amazônia Equatoriana. “Os povos indígenas lutaram por um longo tempo para manter o equilíbrio [da natureza] em termos de mudança climática. Eu quero que as pessoas de fora daqui parem para nos escutar e entendam que estamos lutando por nossas vidas – mas não apenas as nossas vidas e, sim, de toda a humanidade”.

A conferência digital GLF Amazônia: O Ponto de Inflexão – Soluções de Dentro para Fora aborda a emergência de se preservar e restaurar a diversidade biológica e cultural da maior floresta tropical do mundo. Milhares de pessoas participarão virtualmente nos três dias do evento, que ocorre em meio à pandemia de COVID-19.

Além de Gatti, as plenárias de abertura do evento, na terça-feira, contaram com mensagens do economista equatoriano e ex-ministro de Energia e Minas, Alberto Acosta; a primeira indígena eleita deputada federal no Brasil, Joênia Wapichana; e a Secretária-Geral da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (ACTO) e ex-ministra boliviana do Meio Ambiente e Água, María Alexandra Moreira López. Eles abordaram os desafios que afetam o bioma Amazônia, incluindo o equilíbrio entre demandas concorrentes de uso da terra, combate ao desmatamento, mitigação da propagação de incêndios e promulgação de melhor legislação.

Outros palestrantes no dia da abertura incluíram: Tasso Azevedo, coordenador da Iniciativa MapBiomas, uma plataforma para produzir mapas anuais nacionais de cobertura e uso da terra. Azevedo ajudou a reduzir a taxa de desmatamento na floresta amazônica do Brasil em 75% e inspirou esforços semelhantes em todo o mundo; Lourdes Miranda Tiguayo, defensora dos direitos humanos e do meio ambiente e líder da terra, territórios e recursos Humanos da Nação Guarani na Bolívia; além de Rodrigo Botero García, da Fundação para a Conservação e o Desenvolvimento Sustentável (FCDS).

A conferência GLF Amazônia, que ocorre de 21 a 23 de setembro, é organizada pelo GLF, com o apoio de mais de 55 organizações parceiras e 15 parceiros de mídia. Entre os temas em debate estão: identidades bioculturais, bioeconomia circular, abordagens integradas da paisagem, cadeias de valor, conhecimento tradicional, cadeias de valor baseadas na natureza, planejamento intersetorial do uso da terra, governança e direitos dos atores locais.

Na quinta-feira (23/09), dois ex-ministros do meio ambiente, Marina Silva (Brasil) e Manuel Vidal (Peru) discutirão a política amazônica e como promover uma legislação que impulsione a sustentabilidade e a equidade da natureza e dos povos do bioma.

Os assuntos tratados na GLF Amazônia serão integrados aos principais fóruns ambientais globais de 2021: Semana do Clima 2021 (de 20 a 26/9), a Conferência híbrida GLF Climate (de 5 a 7 de novembro), (de 5 a 7/11) e a 26a Conferência das Partes (COP26) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) (de 1 a 1/11).

***Para solicitar entrevistas com palestrantes da plenária de abertura, envie um email para Thaís F​erreira Mattos, t.ferreira@cgiar.org***

INSTRUÇÕES PARA PARTICIPAÇÃO: faça seu credenciamento de imprensa aqui. A conferência é gratuita para participantes que moram na América Latina e Caribe e tem uma pequena taxa para residentes de outras regiões do mundo.

CREDENCIAMENTO DE IMPRENSA

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Esta conferência digital foi possível graças ao generoso apoio da Fundação Ford, BMU, BMZ, o Governo do Grão-Ducado de Luxemburgo e FOLUR.

As organizações que participam da conferência incluem, entre outras: World Wildlife Fund WWF, Conservation International, Interfaith Rainforest Initiative (IRI), Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia do Rio Amazonas (COICA), Sociedade Peruana de Direito Ambiental (SPDA), Embrapa Amazônia Oriental, Fórum Florestal da Amazônia do Diálogo Florestal (The Forest Dialogue’s Amazon Forest Forum), Rainforest Alliance, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Centro de Pesquisa Florestal Internacional (CIFOR), World Agroforestry (ICRAF), Universität Koblenz-Landau (Instituto de Ciências Ambientais – PRODIGY), Earth Innovation Institute e Global Landscape Forum (GLF), Organização Internacional de Bambu e Rattan (INBAR), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Pindorama Filmes, Instituto Catitu, Itaú Cultural, WaterBear, TAWNA, Laberinto Cine Y Televisión, Marfrig, Instituto de Investigaciones de la Amazonía Peruana, Climate Focus, Wildlife Conservation Society (WCS), Alliance Bioversity International (CIAT), Instituto Humanista para Cooperação com Países em Desenvolvimento (Hivos), Associação de Conservação da Amazônia, Iniciativa MAP, Programa de Pesquisa em Florestas, Árvores e Agroflorestas do CGIAR (FTA), Coalização Brasil Clima, Florestas e Agricultura, Green Gigaton Challenge (UN-REDD+, Emergent, EDF, Forest Trends, and the Architecture for REDD+ Transactions, Força Tarefa dos Governadores para o Clima e Florestas.

O Fórum Global de Paisagens (GLF) é a maior plataforma de conhecimento do mundo sobre uso integrado da terra, dedicada a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o Acordo Climático de Paris. O fórum adota uma abordagem holística para criar paisagens sustentáveis que sejam produtivas, prósperas, equitativas e resilientes e considera cinco temas coesos de alimentos e meios de subsistência, restauração de paisagens, direitos, financiamentos e medição do progresso. É liderado pelo Centro de Pesquisa Florestal Internacional (CIFOR), em colaboração com seus cofundadores UNEP e o Banco Mundial e Membros fundadores.

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