Visões inovadoras marcam um caminho audacioso para o financiamento da biodiversidade e do clima

30 Oct 2024

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Durante a Conferência de Biodiversidade da ONU de 2024 (COP16), especialistas e participantes do 7.º Simpósio GLF sobre investimentos sustentáveis debateram e demonstraram como o financiamento para a biodiversidade pode ser eficaz, inclusivo e sustentávelcomeçando agora. 

Cali, Colômbia (29 de outubro de 2024) – O mundo precisa de formas de financiamento inovadoras para arrecadar 200 bilhões de dólares anualmente para preservar a biodiversidade. Isso significa formar uma frente articulada para financiar soluções para as crises de clima, biodiversidade e degradação da terra.  

Essas foram algumas das principais lições do 7.º Simpósio do Global Landscapes Forum (GLF) sobre investimentos sustentáveis, que foi concluído na sexta-feira, 25 de outubro.  

Coorganizado com a Plataforma Luxemburgo–GLF Finance for Nature (Finanças para a natureza), o evento destacou a necessidade de integrar a biodiversidade nos sistemas financeiros e construir sinergias entre as três Convenções do Rio (CBD, UNFCCC e UNCCD). 

“Precisamos recuperar o espírito da Cúpula da Terra do Rio de 1992 e trabalhar juntos em todos os níveis. O governo de Luxemburgo tem muitas iniciativas em andamento entre o setor privado e o público, onde os co-benefícios são essenciais — o econômico, o social e o ecológico. Precisamos fortalecer os direitos das comunidades locais, povos indígenas, mulheres e crianças em todo o mundo,” disse Serge Wilmes, Ministro do Ambiente, Clima e Biodiversidade & Ministro do Serviço Público de Luxemburgo. 

“Nossa meta é que os projetos se tornem significativos e viáveis, atraindo investimentos, e que o dinheiro seja utilizado pelas comunidades locais, pois elas sabem como preservar, conservar a natureza e geri-la de forma sustentável. É por isso que trabalhamos junto ao GLF e desenvolvemos iniciativas como a Resilient Landscapes Luxembourg (RLL).” 

Especialistas e participantes do 7.º Simpósio GLF sobre investimentos sustentáveis também exploraram as oportunidades e os desafios da inteligência artificial (IA) e novas tecnologias, que têm um enorme potencial para destravar novos mecanismos financeiros. 

“Para que a IA seja inovadora, precisamos primeiro identificar claramente os problemas que queremos resolver. A parceria intersetorial é essencial para impulsionar essa inovação. Por exemplo, o setor privado oferece capital e conhecimento, a academia agrega pesquisa aprofundada e experiência técnica, e inovadores locais trazem o contexto regional,” disse Gabriela Gutierrez, Fundadora e CEO da Tabs AI.  

Perspectivas indígenas e locais estiveram no centro do evento, destacando como o consentimento informado, a soberania e os benefícios compartilhados são essenciais para qualquer inovação financeira.  

“O financiamento para povos indígenas é hoje um compromisso político global, mas precisamos transformá-lo em realidade. Muitos povos indígenas, organizações, movimentos e comunidades locais estão realizando um processo de debate para criar mecanismos de financiamento geridos diretamente por indígenas,” disse Kleber Karipuna, Coordenador Executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). 

Embora os povos indígenas representem apenas uma pequena fração da população mundial, eles são os guardiões da maior parte da biodiversidade do planeta. “Isso mostra que os pagamentos atuais são desproporcionais e os povos indígenas estão subfinanciados,” disse Karipuna, referindo-se a mecanismos que conectam o financiamento global com povos indígenas e comunidades locais.  

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o mais novo membro do GLF, enfatizou a importância de estratégias financeiras para apoiar aqueles que cuidam diretamente da biodiversidade e para fomentar tecnologias que promovam esses esforços. 

“O financiamento é um elemento catalisador crucial. Precisamos garantir que o dinheiro seja mobilizado para conservação, biodiversidade e para apoiar as culturas que preservam a biodiversidade,” disse Ane Alencar, Diretora de Ciência do IPAM. 

“O financiamento também pode ajudar a desenvolver novas tecnologias, como a IA, permitindo um melhor entendimento da biodiversidade, melhorando o monitoramento, rastreando de forma mais eficaz o que está acontecendo com aqueles que interagem com a biodiversidade e, por fim, permitindo o uso da tecnologia para realmente conservar a biodiversidade sem aumentar as desigualdades.” 

Palestrantes também enfatizaram o papel de soluções financeiras inovadoras, incorporando a biodiversidade em transações financeiras e criando mecanismos como financiamento misto, fundos de investimento de impacto, títulos verdes e de biodiversidade, e pagamentos por serviços ecossistêmicos.  

“Para incentivar o setor privado, precisamos abordar o risco percebido. Normalmente, os atores privados percebem os projetos relacionados à biodiversidade como projetos de alto risco. Também precisamos abordar a incerteza dos retornos financeiros relacionados às fases iniciais dos projetos de biodiversidade. Aqui é onde o financiamento misto desempenha um papel fundamental, tornando os projetos relacionados à biodiversidade muito mais atraentes e viáveis,” disse Camila Silva Arango, Gerente de Assistência Técnica da Finance in Motion.  

“Os compromissos do setor privado tem amadurecido, passando desde evitar o desmatamento em cadeias de suprimento até considerar compromissos com a natureza e o clima e como isso pode impulsionar o financiamento necessário em escala, reduzindo a dependência de multilaterais ou fundações, mas aproveitando forças de mercado maiores,” disse Bambi Semroc, Vice-Presidente Sênior do Center for Sustainable Lands and Waters, Conservation International. 

“Se conseguíssemos que as 70 principais empresas mundiais nos setores de alimentos, agricultura, varejo e bens de consumo assumissem compromissos com a natureza, poderíamos ver até 80 milhões de hectares de terras restaurados, melhor geridos e protegidos, junto com mais de um bilhão de dólares em financiamento.” 

Tanto soluções de financiamento doméstico existentes quanto novas são muito necessárias, tornando crucial destinar taxas e impostos específicos para ajudar a capitalizar fundos fiduciários de conservação, que são uma maneira importante de canalizar recursos para comunidades locais. 

“No ano passado, pedimos aos nossos respectivos governos que realizassem reformas estruturais, especialmente uma reforma fiscal ecológica. Pode-se arrecadar muito dinheiro, mas trata-se de vontade política, não apenas técnica. Por exemplo, a Nigéria tem mais de 180 milhões de pessoas. Se você cobrar apenas 5 centavos por garrafa de cerveja e água consumida diariamente – digamos 80 milhões de garrafas, quanto dinheiro arrecadaremos no final do dia, após um ano?” disse Théophile Zognou, CEO do Fundo Fiduciário Tri-Nacional de Sangha e Presidente do Consórcio de Fundos Africanos para o Meio Ambiente (CAFÉ). 

Com mais de 600 participantes presentes e outros milhares online, o 7º Simpósio GLF sobre investimentos sustentáveis: “Recompensando a natureza: mapa para um plano de financiamento da biodiversidade” promoveu conversas cruciais junto à Conferência de Biodiversidade da ONU de 2024 (COP16) em Cali, Colômbia. 

Encontre mais informações e citações no artigo de resumo da ThinkLandscape aqui. 

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O 7º Simpósio GLF sobre investimentos sustentáveis foi co-organizado pelo CIFOR-ICRAF, Governo do Grão-Ducado do Luxemburgo, FOLUR, GEF e Global Landscapes Forum. 

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NOTA AOS EDITORES 

Sobre o GLF 

O Global Landscapes Forum (GLF) é a maior plataforma mundial de conhecimento sobre o uso integrado da terra, conectando pessoas com uma visão compartilhada para criar territórios produtivos, rentáveis, equitativos e resilientes. Ele é liderado pelo Center for International Forestry Research-World Agroforestry Centre (CIFOR–ICRAF), em colaboração com seus co-fundadores PNUMA e o Banco Mundial, e seus membros da rede. Saiba mais em www.globallandscapesforum.org 

Representação visual da plenária “Prioridades e soluções para um roteiro global de financiamento da biodiversidade.” Imagem: Anna Denardin

 

Workshop do programa de jovens do GLF no 7º Simpósio GLF sobre investimentos sustentáveis. Foto: Javier Guzmán / Global Landscapes Forum

 

Ane Alencar, Diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). Foto: Javier Guzmán / Global Landscapes Forum

 

Da esquerda para a direita: Josimara Melguero de Oliveira da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB); Kleber Karipuna, Coordenador Executivo da APIB; e Serge Wilmes, Ministro do Ambiente, Clima e Biodiversidade & Ministro do Serviço Público de Luxemburgo. Foto: Javier Guzmán / Global Landscapes Forum

 

Kleber Karipuna, Coordenador Executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). Foto: Javier Guzmán / Global Landscapes Forum

 

Serge Wilmes, Ministro do Ambiente, Clima e Biodiversidade & Ministro do Serviço Público de Luxemburgo. Foto: Javier Guzmán / Global Landscapes Forum

 

Abertura da plenária “Mobilizando os bilhões: Caminhos para alcançar o Quadro Global de Biodiversidade” do 7º Simpósio GLF sobre investimentos sustentáveis. Foto: Javier Guzmán / Global Landscapes Forum

 

 

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